"Parte de mim vai com o Primeiro de Janeiro para o túmulo do tempo, e tenho dificuldade em identificá-lo com aquilo que se publica hoje com o mesmo título. Mas a vida é assim". José Pacheco Pereira
Perceber e perspectivar as transformações da existência é um raciocínio ilógico, inócuo, despropositado, dispensável. O ser humano não tem capacidades para compreender o passado e pensar o futuro. Se aprendêssemos com os erros, jamais os repetiríamos. Se soubéssemos o que traz o tempo, o mundo seria perfeito... Perfeitinho. Um éden. Na natureza, nada se perde, nada se ganha, tudo se transforma. Lavoisier forneceu-nos a base, mas nós fomos incapazes de a explorar e aprofundar. Esta 'introdução-conclusão' surge na sequência de uma tentativa de perceber a história de O Primeiro de Janeiro, de perceber o passado e pensar no futuro deste jornal. Os tempos mudam, processo que destrói o corpo e a alma. Tudo, excepto as memórias. Essas ninguém apaga - sobrevivem enquanto há esperança. Camilo Castelo Branco, Alberto Pimentel, Guilherme de Azevedo, Guerra Junqueiro, Latino Coelho, Ramalho Ortigão, Antero de Quental, Oliveira Martins, Eça de Queirós, Gomes Leal e António Nobre fazem parte das memórias da cidade do Porto. Em comum, o facto de terem sido depositários de palavras em O Primeiro de Janeiro. Esse Janeiro subsiste apenas nas memórias. Que caminhos trilhou o matutino, ao longo de 140 anos, até chegar ao presente? O que diria Camilo deste Janeiro? Que prosa seria Eça? Que realidade Nobre encontraríamos? Quem é o pai desta Guerra? Ao longo dos tempos, O Primeiro de Janeiro foi morrendo lentamente. Morrendo, mas sempre respirando, exalando o ar da sua história. Esse era o seu maior mérito. Hoje, este jornal vegeta, nas mãos do saber de um 'desnorte portivo'. Regicídio. O rei caiu nas mãos da plebe. É tempo de Regeneração, dizem... Afinal, O Primeiro de Janeiro deve o nome às manifestações da Janeirinha, que a 1 de Janeiro de 1868 iniciaram o processo que levou ao fim da... Regeneração. Que irónico é o destino, que estranho é o passado...Por isso, "perceber e perspectivar as transformações da existência é um raciocínio ilógico, inócuo, despropositado, dispensável". in Os Limites da Vergonha
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